O despertador nem precisa tocar e eu já acordo.
Uma caminhada matinal, bem cedinho, ouvindo aquelas músicas que me fazem mais feliz.
Contemplo as árvores do caminho, as ruas, as casas. Até as pessoas eu consigo contemplar.
Chego em casa, tomo um banho e , linda, leve e solta me sinto preparada para um novo dia.
Nisso já são quase 8:00 da manhã, e meu celular começa a tocar.
(comece concentrando-se na sua respiração...)
O dia começou. O que deu pra fazer até o primeiro toque deu. Pego o carro com o celular pendurado na orelha, manobro e vou. Vou à luta.
Aí ja deve ser umas 8:30 e meu celular já deve ter tocado umas 8 vezes. Mantenho-me calma, pois o dia está apenas começando.
Liga o pedreiro avisando que a maquita quebrou e que eu "tenho", veja bem, TENHO que comprar outra porque senão a obra vai parar. Só que eu tenho reunião com uma psicopata de uma cliente que me liga 789253467 vezes ao dia e que já está marcada há mais de uma semana, e não poderei deixar de ir para comprar a maquita e, no escritório, o telefone só dá ocupado.
(respire profundamente e imagine uma luz azul no alto de sua cabeça)
Enquanto isso, na outra obra, o outro cliente, mala, muito mala, me liga e eu não posso atender.
Ele continua ligando e eu continuo em reunião. E ele continua ligando.
E eu continuo em reunião. E ele continua ligando.
E eu, em reunião.
(o celular já tocou mais umas 5 vezes).
E, paralelamente, na terceira obra, o outro pedreiro resolve não aparecer, pois estava de ressaca de ontem e como ganha por dia, ele não se importou muito de não receber o dia de hoje. Só que não me avisou e não levou a chave, e o material de construção chegou e não tinha ninguém, e a mercadoria voltou para a expedição e só poderá ser entregue daqui 3 dias úteis.
Ah, sim, eles tentaram ligar no escritório, mas os três números continuam ocupados...
(após três respirações, relaxe todos os músculos de seu corpo)
Saio da reunião já toda suada de nervoso e o banho já era faz tempo, e vou para a Marcenaria ver como ficaram os móveis que tenho que entregar ainda nesta semana à 500Km daqui.
Só que quando chego lá, vejo que minha estagiária imprimiu o desenho na escala errada e o Marceneiro, coitado, executou o armário o dobro do tamanho que era pra ser.
Vontadinha de esganar a estagiária.
(relaxe o músculo da face, antes de pegar o revolver)
Ainda antes do almoço eu já estou em um estágio terrorista dentro de mim.
Chego pra almoçar no lugar de sempre e as pessoas ficam me pedindo "dicas" de decoração o almoço inteiro. E eu planejando vomitar na cara delas.
Eu ainda tenho a tarde toda pela frente, e talvez até à noite, pois esqueci a agenda e não sei se hoje terei algum cliente sem noção que marcou comigo um horário às 21:00 hs. (não, não é o que vocês estão pensando; tem cliente às 21:00 também para Arquitetos, porém nós não recebemos nem 20% do que uma garota de programa recebe. Nem o dinheiro do taxi).
Começa a tarde e eu tenho que comprar a po%ˆ#a da maquita do bos$#a do pedreiro da primeira obra citada. Passo em uma loja, não tem. Pego um trânsito do inferno para chegar na outra loja, acho, vou passar o cartão, sem limite.
Nisso eu já estou chorando.
Volto para casa pegar o outro cartão (o trânsito continua) . Atravesso de novo toda a cidade pra comprar o ca@#%$te da maquita para o flho da P#&a do pedreiro. Volto pra obra e entrego a maquita. Ele me pede um vale.
(SÓ SE FOR VALE UM MURRO BEM NO MEIO DA SUA TESTA SUA ANTA!!!!)
Respiro. Dou um Vale Transporte pra ele.
Agora lembro de retornar para o cliente que ligou 698 vezes, retorno, pois pela quantidade de vezes que o mala ligou, provavelmente , o prédio dele desabou.
Infelizmente, não desabou e ele está vivo.
Ele está em dúvida se pinta o hall de Verde Musgo ou Verde Menta, sendo que eu JÁ tinha definido a cor depois de 5 horas de reunião com ele semana passada.
(PINTA SEU C# DE ROXO BATATA SEU MALA!!!!)
Respiro mais duas vezes. Pondero. Passo lá.
Escolho Verde Catarro.
E agora, com muita raiva dentro de mim, já são quase 18:00, quase esqueço de avisar o bebum que está de ressaca e não foi trabalhar, que, graças à falta dele, a obra vai ficar parada por quatro dias.
Ele comemora! E ainda fala, - Não se preocupe, Dona Aline , semana que vem eu dou um pau pra terminar!
(EU É QUE VOU DAR COM UM PAU NA SUA CABEÇA SEU INFELIZ!!!!)
Respiro três vezes , digo que tudo bem , pois não tem o que fazer e desligo o telefone.
Assim que dá paro o carro para dar uma caidinha básica no choro. Entro em prantos por uns cinco minutos até o celular tocar. Mais um cliente enchendo o saco. Me recomponho e continuo. Estou exausta. Não quero mais ir a lugar nenhum nem em nenhum cliente às 21:00. Aliás, se possível, quero ficar sem falar com ninguém até a minha próxima encarnação.
A bateria do celular acabou. Não tem o que fazer.
Pelo menos, o estress acabou.
Vou pra casa descansar agora.
Não.
Entrei na Av. Visconde de Guarapuava. Tudo parado. Chego em casa depois de 2 horas.
Vou descansar.
Não.
Os filhos do vizinho resolveram fazer da parede do meu quarto um gol.
O dia acabou.
Hoje foi um dia como todos os outros.
Sem maiores problemas.
Tomo outro banho, deito e faço minha oração para o Santo Rivotril.
Boa noite.
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Meuuuuuu Deus! ler esse texo me deixou estressada!!! YES pata Rivotril! hahaha
ResponderExcluirAdorei o texto!
ResponderExcluirParabéns!
veja o lado bom das coisas!percebeu quantos clientes vc tem? O problema ia ser esse estresse todo , mas correndo atrás de cliente.
ResponderExcluirLine, nao e tao ruim assim, vc tem um monte de cliente, tem um apertamento, um carro e um celular, a maioria dos arquitetos nem isso tem !!!!
ResponderExcluirreléx ... a vida é assim
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